Texto por: Mariana Guimarães – Designer em formação
Ferramentas de design são úteis para que consigamos validar e dar coerência a nossas ideias. A Gestalt é uma ferramenta excepcional, pois ao se basear no funcionamento do cérebro humano, trabalha com significados e percepções gerais e garante um entendimento maior do conceito por parte dos usuários.
A Gestalt tem origem na filosofia e psicologia e começou a ser difundida no final do século XIX por três nomes principais: Wolfgang Köhler, Kurt Koffka e Max Wertheimer. De acordo com Filho (2008), o movimento gestaltista, baseado na psicologia da forma, procura explicar por que certas formas agradam e outras não e como funciona a percepção das formas pelas pessoas.
A mente humana tem comportamentos recorrentes ao perceber as formas vistas nos objetos, pessoas, cenários e tudo que enxergamos. E os princípios da Gestalt estão baseados nestes comportamentos, em como nosso cérebro recebe os estímulos visuais, e como ele tende a agrupar vários sinais sensoriais que considera semelhantes. Nosso funcionamento cerebral faz com que percebamos primeiro os objetos como um todo, para depois ater-nos aos detalhes.
Quando um layout leva em consideração princípios de Gestalt, ele se torna mais intuitivo e transmite mensagens mais objetivas e claras, pois leva em consideração o funcionamento do cérebro das pessoas em geral. Mas como usar esta ferramenta para melhorar o desempenho do nosso projeto de design? Basta atentar-se aos seus princípios.
Os princípios da Gestalt são: semelhança, proximidade, continuidade, pregnância, fechamento e relação figura-fundo. O primeiro princípio afirma que os eventos que são similares se agruparão entre si. Isto é facilmente percebido quando enxergamos uma forma geométrica formada por diversos pontos em distâncias regulares. Um exemplo do uso deste princípio foi na peça publicitária do McDonald's, para informar aos clientes sobre a existência do wifi nas dependências do estabelecimento.
Imagem 1: De acordo com o primeiro princípio da Gestalt, o cérebro agrupará os círculos por semelhança fazendo com que a pessoa perceba, inicialmente, a figura geométrica do quadrado.
Imagem 2: Anúncio publicitário do McDonald’s, que utilizou as batatas fritas em repetição formando o ícone de wifi.
No segundo princípio, proximidade, os elementos são agrupados de acordo com a distância a que se encontram um dos outros. Um exemplo de aplicação deste princípio é a marca da IBM.
Imagem 3: O logo do IBM é formado por várias faixas azuis que se agrupam por proximidade.
A continuidade é o terceiro princípio e ele alega que os elementos tendem a acompanhar uns aos outros de maneira que permita certa continuidade, esta é formada pela organização perceptiva de elementos que formam uma trajetória visual. Como exemplo de utilização deste princípio temos o logo da empresa Legno, cujo elemento em laranja percorre toda base do logo, mesmo que seja interrompido pela letra G.
Imagem 4: O elemento laranja da marca Legno sugere uma linha contínua, ainda que seja interrompido pela letra G.
O princípio de pregnância rege que os elementos mais simples são mais facilmente assimilados, por isso também pode ser considerado princípio da simplicidade. A organização dos objetos também direciona seu nível de pregnância, um exemplo disto é a relação de legibilidade entre fontes manuscritas e romanas.
Imagem 5: O que você lê mais rápido? Gestalt escrito em Helvetica, que é uma tipografia geométrica simples ou escrito em Celestina, tipografia manuscrita desenhada.
Deve-se atentar para o uso de cada princípio de forma pertinente. O conceito proposto por uma peça gráfica pode muitas vezes depender de uma tipografia mais desenhada, fluida e orgânica, como a Celestina. Então ela se torna totalmente justificável e adequada, mesmo que sua leitura seja mais demorada.
O fechamento, quinto princípio da Gestalt, afirma que nosso cérebro tende a visualizar um objeto completo, mesmo quando há apenas partes deste objeto. O ícone do panda, do logo da WWF é um exemplo deste princípio, que utiliza elementos em preto que formam, junto com o espaço negativo, o animal que identificamos.
Imagem 6: Ícone do Panda, do logo do WWF, é uma forma criada pelo nosso cérebro na junção das formas em preto e o espaço criado entre eles.
Por último, o princípio de relação figura-fundo demonstra que, dependendo das cores utilizadas nas formas, há a possibilidade de dualidade de visualizações. Em um momento você percebe uma figura e em outro momento você percebe outra, como na figura abaixo:
Imagem 7: A ilustração feita pelo designer Norma Bar tem duas fases: a que você enxerga um braço e luvas de boxe e uma forma com braços musculosos.
Imagem 8: O logo do Carrefour forma a
letra C em espaço negativo.
Sem dúvida as leis da Gestalt muitas vezes são utilizadas sem direta intencionalidade, uma vez que eles são frutos da natureza das percepções do cérebro humano. Mas usá-las conscientemente faz com que o profissional transmita a mensagem do projeto de forma intuitiva e seja capaz de inovar, ao estabelecer relações de figura-fundo, continuidade entre outros princípios.